TUDO MUDOU

Eu vi a válvula, vi o fax
e vi o ponto brilhoso no meio do tubo
O que temos agora era a ficção dos filmes dos dias de brincar
Não vivia de fato, pois isso começou aos quarenta
Mas nos tempos das brincadeiras

tinham "as brincadeiras"

de correr, de suar, de se aventurar
tinha até brincadeira pra namorar
Era só o parceiro avisar, 

então eu escolhia a fruta pra apreciar

Se era pecado tenho um problema

pois não me arrependo de lembrar

Mas tudo mudou agora

Se aos poucos se de repente

o que era ficção ficou tão real que carregamos no bolso

falamos olhando nos olhos de quem está distante

viajamos tão longe, tão rápido, tão barato

Quase não temos tempo, pois não o vemos passar

Um ano leva seis meses pra acabar

Quase não temos saudades

Pois as ligações são de vídeo

Quase sem bagagem 

pois os papeis e as lembranças vão com a nuvem

Mas a nuvem de poluição não dissipa

A violência não termina

E as covardias não param

Se viaja tão longe e tão fácil

que nenhum vírus eles param

tudo mudou, mas a ganancia é a mesma

O trabalho escravo mudou, a violência doméstica também

O assassinato dos nascituros e por aí vai

Tudo mudou, mas é a mesma maldade 

tudo mudou, mas a vaidade é a mesma

Quase não temos saudades 

A não ser do tempo das brincadeiras.

Marcos André